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Decifrado papiro que revela notas da vida e morte de Platão

por Carla Quirino - RTP
Busto de Platão Clodagh Kilcoyne - Reuters

Os arqueólogos decifraram um antigo pergaminho de papiro carbonizado recuperado das ruínas de Ercolano, em Itália, indicando com precisão o local onde Platão foi a enterrar. As informações apontam para uma área privada perto de um santuário sagrado dedicado às Musas, no jardim da Academia que o filósofo fundou em Atenas.

Este estudo faz parte do projeto "GreekSchools", financiado pelo Conselho Europeu de Investigação, que começou há três anos e continuará até 2026.

Os investigadores recorreram a imagens óticas infravermelhas, imagens óticas ultravioletas, imagens térmicas, tomografia e microscopia ótica digital como uma espécie de "olho biónico" para examinar o pergaminho de História da Academia de Philodemus, que também foi escrito em tinta à base de carbono.

Esta nova análise acabou por revelar um conjunto novo de dados. “Comparado com as observações anteriores, há agora um texto quase radicalmente alterado, o que implica uma série de factos novos e concretos sobre vários filósofos académicos”, sublinhou Graziano Ranocchia, principal investigador do projeto. 

Através das recém-descobertas, os cientistas chegaram a deduções interdisciplinares inesperadas para a filosofia antiga, biografia e literatura gregas e a história do livro de Philodemus.



CNR – Consiglio Nazionale delle Ricerche
Papiros de Ercolano
Ercolano era uma rica villa romana vizinha de Pompeia que também sucumbiu às cinzas da erupção do Monte Vesúvio, em 79 d.C..

Ainda assim, algumas áreas da Ercolano romana sobreviveram. Entre uma delas está uma residência palaciana que terá pertencido a um homem chamado Piso. Aqui, resistiam centenas de pergaminhos escritos de valor inestimável feitos de papiro, porém queimados pelo gás vulcânico.

Os manuscritos permaneceram enterrados sob lama vulcânica até serem escavados nos anos de 1.700. Num único quarto, estava este conjunto de testemunhos que os arqueólogos acreditam ter sido a biblioteca pessoal de um filósofo chamado Philodemus.


Ercolano | Carla Quirino - RTP

Dos fragmentos encontrados, os investigadores já tinham identificaram vários textos de filosóficos gregos.

Agora, com apoio das novas tecnologias, foi possivel decifrar mais de mil novas palavras que correspondem a 30 por cento do documento. Este papiro carbonizado pertence à história da Academia de Philodemus (110 a.C – 40 a.C)

“Pela primeira vez, fomos capazes de ler sequências de letras ocultas dos papiros que foram dobradas em várias camadas, presas umas às outras ao longo dos séculos, através de um processo de desenrolamento usando uma técnica mecânica que interrompeu fragmentos inteiros de texto" explicou Ranocchia, citado na publicação britânica The Guardian.

Nas obras de Philodemus estão incluídos escritos sobre ética, teologia, retórica, música, poesia e a história de várias escolas filosóficas.
Notícias sobre Platão

Platão era conhecido como discípulo de Sócrates e mentor de Aristóteles. Morreu em Atenas por volta de 348 a.C..

Sobre o filósofo, surgem mais novidades sobre a sua vida. Do pergaminho resgata-se a informação que Platão foi vendido como um escravo na ilha de Egina já talvez em 404 a.C., quando os espartanos conquistaram a ilha ou, alternativamente, em 399 a.C., imediatamente após a morte de Sócrates. Até agora, acreditava-se que Platão tinha sido vendido como escravo em 387 a.C. durante sua estadia na Sicília, na corte de Dionísio I de Siracusa.
 
O recém-decifrado manuscrito detalha também como o filósofo grego passou as últimas horas. Apesar de lutar contra uma febre e estar à beira da morte, Platão estaria lúcido o suficiente para criticar uma tocadora de flauta.

Nessa passagem, descobre-se um diálogo entre personagens em que Platão descreve – em tom desdenhoso - a fraca habilidade musical e rítmica de uma música escrava originária da Trácia.

Numa das notícias deste fragmento manuscrito, foi possível decifrar que Platão foi enterrado no jardim reservado para o próprio - numa área privada destinada à escola fundada pelo filósofo - a Academia em Atenas, perto da chamada Museion ou sacello sagrado para as Musas.

Até agora, só se sabia que Platão estava enterrado na Academia, sem qualquer informação precisa.
Novas tecnologias para decifrar textos antigos
Os resultados da investigação foram agora apresentados pelo professor Graziano Ranocchia, da Universidade de Pisa, responsável por desenterrar o pergaminho carbonizado. Na Biblioteca Nacional de Nápoles, Ranocchia descreveu a descoberta como um “resultado extraordinário que enriquece nossa compreensão da história antiga”.


Scanners ampliados / infravermelhos e de raios-X decifraram mais de mil palavras do texto de História da Academia de Philodemus, antes ilegíveis | D.P. PavoneTraso /Pacoa

Ranocchia acrescentou que a capacidade de identificar essas camadas e virtualmente realinhá-las para as posições originais permite restaurar a continuidade textual. Esta tecnologia"representa um avanço significativo em termos de recolha de grandes quantidades de informações".

“Graças às técnicas de diagnóstico por imagem mais avançadas, finalmente somos capazes de ler e decifrar novas seções de textos que anteriormente pareciam inacessíveis”, destaca o investigador.

O trabalho ainda está nas etapas iniciais mas Ranicchia acredita que o impacto do estudo dos pregaminhos - cada vez melhor descodificados - irão trazer ainda muitas surpresas, nos próximos anos.
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